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quinta-feira, 21 de julho de 2011

O objeto mata o desejo. Será?

Freud, sempre ele, disse que o objeto mata o desejo. Ou seja, o que nos faz feliz é a busca, é a conquista, já que ao obtermos o objeto desejado ficamos tristes. Talvez porque seja impactante, talvez porque a conclusão tenha sido de Freud ou talvez porque, às vezes, tenha se confirmado, virou lugar comum concordar com tal afirmativa.

O problema é que a vida acaba desmentindo Freud. Vejamos.

Um advogado, por exemplo. Quanto mais bem sucedido é em seus processos, mais quer continuar sendo. Não só em função do dinheiro, mas por ter obtido 'louvor' pelo que buscou e por poder entregar isso a seu cliente. E quando não é atendido, fica insatisfeito, coloca a culpa no juiz e faz um recurso melhor do que tudo na vida para tentar reverter e ganhar. Nesse caso, Freud mentiu.

No amor. Quando depois de toda a função da conquista se consegue estar com a pessoa desejada, se a pessoa conquistada for realmente bacana e se mostrar na maior parte do tempo (não todo o tempo, porque isso é humanamente impossível) ser mais interessante e mais surpreendente, a admiração aumenta e o desejo persiste. Acho que, nesse ponto, Freud, também, errou.

E agora, vejamos se Freud aplica-se no caso do pessoal do Ministério dos Transportes, do Dnit, do DAER, das prefeituras gaúchas que facilitaram as licitações, da fusão Sadia e Perdigão, da tentativa frustrada (por enquanto) do Pão de Açúcar, das licitações da Copa, da mídia dominante e dominadora? Parece que não, pois, aqui, quanto mais lucro e quanto mais poder o desejo aumenta. Conquistar o objeto, não os deixou tristes, mas fez com que eles quisessem mais do mesmo objeto. Ao alcançar o objeto de desejo (repita-se lucro e poder), o mesmo desejo se multiplicou, no estilo Eike Batista e suas empresas XXX.

O objeto mata o desejo? Nem sempre, dr. Freud.

sábado, 2 de julho de 2011

De novo..."é o rodo cotidiano...."

De novo, o cotidiano. Há muito a escrever sobre tudo, mas, por ora, as manchetes irão predominar. 

O Itamar morreu (seguem 228 horas de cobertura do enterro). Nada contra ele, mas agora teremos que ouvir sobre o Plano Real e sua estabilidade e sobre toda aquela sequência de acontecimentos. Sei, sei, sei. Isso é natural quando morre uma 'personalidade', mas não estamos exaustos desse mesmo tipo de cobertura? O bom é que, talvez, na próxima 'personalidade' que morrer, 70% dos lares brasileiros poderão ter barateada a banda larga de internê e, desse modo, poderão acompanhar as incessantes coberturas de velórios. E, também, dos novos casamentos dos príncipes. Sim. Isso pra dizer que o tal princípe de Mônaco casou. Sim, ainda existem príncipes, gurias. ha ha ha.

Renato foi para o Rio, o Odone ficou e, ainda por cima, chamou o tal do Julinho, o tal que tinha se bandeado para o Inter. Nós, os gremistas, começamos a pensar em ir para Cuba, para tratar a doença instalada no Grêmio. De quebra, aproveitaríamos para ler a mensagem bacana que a Dilma mandou para o Chávez.

Apoiando a chuva e o frio, lá vêm as cinzas do vulcão, de novo. 

O caso do ex do FMI, Dominique Strauss-Khan, ainda vai dar muito o que falar, mas talvez a verdade só o quarto do Hotel poderá nos revelar. Receio que, a partir das gravações reveladas ontem (por que só ontem???), não nos importará mais se o cara é mulherengo e se já assediou algumas várias mulheres e receio que todo o óbvio esquema político poderá tornar-se secundário. As luzes começaram a se dirigir para a índolde da mulher, pois ela é mentirosa, gananciosa e queria dar o golpe (sempre nós, né, gurias?). Hummmm....essa história rende muito pano pra manga. Quando o frio passar, e depois da neve, vou pensar e escrever sobre o assunto.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vida cotidiana

Grêmio empata com o lanterninha e Renato começa a apagar as luzes do vestiário. Com nevoeiro forte e frio de renguear cusco, Salgado Filho cancelou voos. Os gregos não querem mais saber de debates socráticos e partem para a quebradeira. Seu Abílio Diniz quer colocar fermento no Pão de Açúcar, chama o BNDES para sovar a massa, mas o Casino é quem tá tirando o bolo do forno. Chávez foi visitar Fidel, talvez, somente para tomar um chazinho de camomila, mas já há quem esteja organizando o velório. Pra quem tá acompanhando a reprise da Vale Tudo, iniciou nossa aflição sobre quem matou a Odete Roitman, apesar de sabermos que foi a Leila. Tribunal Penal Internacional manda prender Kadafi, mas ele disse que não vai e ficará por isso mesmo.

Enfim...coisinhas de uma quinta-feira nublada.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ismael

No último domingo, no Hospital Conceição, morreu Ismael. Ele tinha 7 anos de idade e desde os três anos estava em tratamento contra a leucemia.

Quando se pensa em leucemia, em transplante de medula, logo se pensa na dificuldade (quase impossibilidade) de achar alguém compatível, já que essa probabilidade é de 1 para 100 mil pessoas. Embora o número de doadores de medula esteja aumentando consideravelmente nos últimos anos (se tu ainda não és, toma vergonha na cara e vá até a Santa Casa de Poa, ou te informa sobre outro hospital), o fato é que a compatibilidade é tão rara que o tratamento desse câncer permanece sendo calamitoso.

Contudo, no caso do Ismael foi diferente. Ele teve a sorte de achar um doador compatível. Imaginem a felicidade. Então, por que ele morreu? Falta de leito no Hospital de Clínicas, que é a única instituição do Estado habilitada pelo Ministério da Saúde a realizar o procedimento.

Fosse o Ismael da nossa família, fosse nosso amigo ou colega estaríamos indignados. Revoltados. Mas, não. O Ismael é uma criança distante que teve um final triste. E, por isso, apenas lamentamos e continuamos seguindo nossas vidas. Como eu disse no último post "eu aqui e tu aí". Reina, entre nós, o mais profundo e egoísta individualismo.

Estamos falando de falta de leito de hospital. Estamos falando da morte de uma criança que conseguiu o mais difícil para manter sua vida, mas, em razão da falta de decência do Estado, perdeu a batalha para o câncer. Só entenderíamos essa situação se fôssemos próximos ao Ismael. Enquanto a aberração da calamidade da saúde pública no Brasil não atinge a alguém que amamos, ou a nós mesmos, não nos dignamos a fazer nada. Não nos dignamos, sequer, a levantar a voz.

A Emenda Constitucional 29 está aguardando votação na Câmara. Essa emenda determina os gastos mínimos da União com a saúde. Com sua aprovação, seriam, aproximadamente, R$8 bilhões destinados à saúde. Seria, talvez, um leito para Ismael.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Eu aqui e tu aí: greve - parte 2 - a missão.

Sobre a greve dos servidores públicos, estou desenvolvendo teses mirabolantes - nem tanto, mas é bom valorizar a posse de bola. Contudo, diante de minha preguiça intelectual momentânea (como se as coisas mudassem muito em momentos de grande vivacidade intelectual hehehe), serei breve. Ou não. Depende do ponto de vista.

Sempre gostei dos movimentos dos trabalhadores fracos e oprimidos, pois a força da voz daqueles que foram obrigados a calar é o que torna o mundo "interessante". É a insatisfação que determina a velocidade e a direção para onde mundo gira. E a insatisfação, como o amor, tem diversas faces: uma é mais rebelde, intolerante, faz motim, levantes, rebeliões; outra é mais conciliadora, menos invasiva, preza - e acredita- no diálogo. Estar insatisfeito faz com que se queira ventilar o mofo, arejar as ideias e buscar a transformação - a mudança. E cada um faz a mudança do seu jeito. Faz do jeito que pode, do jeito que consegue. E do jeito que a ocasião permita.

Contudo, entretanto, porém, há pessoas que acreditam, veementemente, que o seu jeito é melhor do que de outro. A soberba, a presunção de estar sempre certo parece que é inerente ao ser humano. Mesmo em tempos de dita democracia, mesmo em países que se dizem democráticos, constata-se a ditadura do "eu tenho a razão e tu...e tu cala a boca". O engraçado é que, em inúmeras ocasiões, há mais democracia em Estados dito ditatoriais do que...deixa pra lá...isso é assunto para outro momento. Temos, portanto, diversas formas de demonstrar nossa insatisfação (e diversas formas de demonstrar o amor), mas temos poucas defesas da diversidade. Muitos são os insatisfeitos e poucos são os democráticos.

Isso nas relações de trabalho (assim como nas relações amorosas) se mostra da seguinte forma: embora as duas partes queiram, ao fim e ao cabo, as mesmas coisas, elas passam brigando e defendendo suas ideias individualmente.  Como se a felicidade consistisse no rompimento do vínculo: se acabarmos o relacionamento ou se trocarmos de parceiro -  se extinguirmos o contrato de trabalho ou se trocarmos de empregador - as coisas podem / vão melhorar. Mas se romper não estiver nos nossos planos, nos resta brigar por nossas insatisfações. Brigar. E brigar mesmo.

Temos, assim, de um lado os "patrões", os "donos do poder", dizendo que estão sobrecarregados com a carga tributária e etc e tal; os empregados, do outro lado, revoltados com baixos salários, péssimas condições de trabalho e etc e tal. De um lado, temos os funcionários públicos postulando plano de carreira, horários flexíveis, reposição salarial e etc e tal; de outro, temos o Estado e o limite orçamentário e a Lei Camata - dizendo que não podem gastar mais do que o limite fixado pela lei de responsabilidade fiscal e etc e tal.

O lítígio instalado. Duas partes na luta incessante pela defesa do seu ponto de vista. Não há como se colocar no lugar do outro para tentar entender seu argumento. É impossível ouvir o que o outro, porque sou seu inimigo e é contra ele que estou lutando - sim, muitas vezes, a briga não se limita às ideias divergentes, se estende "à pessoa do réu". Pergunte para um grevista suas motivações; pergunte ao administrador as suas. Não é igual a um casal brigando? Cada um tem sua versão sobre "a coisa toda" ... e o pior? Cada um tem suas razões. No fundo, no fundo, os dois lados estão certos. Mas, e aí hein?

E aí vem a minha mirabolante conclusão momentânea para acabar logo esse texto de hoje: 

Assim como no trabalho, assim como no amor: Cada um puxa a brasa para o seu assado!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Minhas metades em partes inteiras, "porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio."

Hoje não quero falar da greve. Mesmo que hoje tenha sido decidida a paralisação total, geral e amplificada da Justiça Federal. Paralisação por tempo indeterminado diga-se de passagem. Não estou interessada.
Não estou preocupada com os salários (nem com os bons; nem com os maus).

Hoje não estou interessada na queda do Palocci, nem na subida da Ideli.
Não estou observando nem a óbvia inconstitucionalidade do segredo das licitações para as obras da Copa.

Nem fui ver o que aconteceu durante a visita do Ban Ki-moon. Nem sei se torço pra que ele fique na Onu ou para que ele vá. Não sei mesmo.

Gripe A? Prisão do Edmundo? Não, não, muito obrigada. Não quero falar sobre isso.

Hoje, não quero saber se o Renato vai colocar o Escudero no lugar do Lúcio pra jogar no próximo domingo; nem se o esquema vai ser losango, quadrado, retângulo ou...circular fechado meio semi círculo. Muito menos estou interessada na saída do Falcão. 

Só por hoje não estou interessada.

Hoje, minha metade poética está inteira. Hoje, é dia da metade ilusória, da metade lunática. Dia de cantar e de não olhar para outra coisa que não seja a metade musicada. Em homenagem a essa nobre metade, chamo o Osvaldo. O Montenegro. O Osvaldo Montenegro, então:

METADE

E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso, e a outra é um vulcão.

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também.


O Osvaldo está em Poa. Só para finalizar essa metade.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Greve e minha inconformidade. Parte 1.

Eu não deveria falar sobre isso. Muito menos escrever sobre isso. Mas não consigo. Nem não falar, nem não escrever. Estou me referindo à greve dos servidores públicos, mais especificamente dos servidores públicos federais. Eis a notícia:

"Os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União têm pressa em fazer a greve nacional. Há dois motivos principais para isso: ela já começou na Bahia e em Brasília e é imprescindível para forçar a negociação com o governo e o STF e arrancar, antes do recesso Legislativo, um acordo que garanta a revisão salarial e supere o congelamento imposto pela presidenta Dilma Rousseff. Foi o que avaliou a maioria dos representantes dos servidores de 25 estados do país e de todos os sindicatos filiados à federação (Fenajufe) que participaram da 16ª Plenária Nacional da categoria, ocorrida entre 3 e 5 de junho num Rio de Janeiro frio na temperatura, mas quente na recepção e nas ruas movimentadas pelas mobilizações dos bombeiros, também em campanha salarial."(http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2722782/plenaria-com-servidores-de-25-estados-aprova-greve-pela-aprovacao-do-pcs)

Vamos ver os vencimentos. Quanto ganha esse pessoal. Vamos diretamente aos vencimentos, MÍNIMOS(carreira inicial), desses servidores: 
Analista Judiciário (curso de ensino superior): R$6.551,52
Técnico Judiciário (curso de ensino médio): R$3.993,09
Auxiliar Judiciário (curso de ensino fundamental): R$ 1.988,19

Ahhhhh! As instalações da JF estão cada vez melhores. Ahhh! Eles têm a querida ginástica laboral (já me aconteceu de ser barrada em um gabinete, tendo que voltar meia hora depois, porque o pessoal estava em ginástica laboral e não poderia me atender....coisas da vida, né?).

Estou com sinceras dúvidas sobre esses valores: são justos? estão dentro da realidade? e a Justiça Estadual ganha o mesmo? E como estão os salários da grande maioria dos trabalhadores da iniciativa privada (não estou falando daquela meia dúzia que tem cargo de chefia/diretoria e afins)? E os demais trabalhadores (públicos e privados) também não enfrentam dificuldades?

Não fico olhando só para o meu umbigo, mas posso falar com propriedade sobre ele. Então posso dizer, com todo conhecimento de causa, que o salário médio que está sendo oferecido a advogados, de Porto Alegre e da região metropolitana, é de R$1.300,00. Sem benefícios. Sem carteira assinada (pasmem! os defensores dos direitos trabalhistas não os cumprem!) - sem INSS; sem FGTS; sem férias ou 13°, sem seguro-desemprego. Sim. Sem nada. E quem advoga sabe que não há horário, há trabalho na rua, instalações nem sempre confortáveis e outras coisas calamitosas.

Já estou ouvindo a argumentação estatutária: quem mandou eu não ser competente e capaz e inteligente e astuta para não ter passado em um concurso? Pois é. Eu realmente não estou sendo capaz disso. Mas e aqueles que querem ficar só na iniciativa privada? Que não desejam o serviço público e que enfrentam essa dura realidade? 

Continua no próximo post....porque agora tenho que sair correndo para tentar ganhar os 1.300.