Freud, sempre ele, disse que o objeto mata o desejo. Ou seja, o que nos faz feliz é a busca, é a conquista, já que ao obtermos o objeto desejado ficamos tristes. Talvez porque seja impactante, talvez porque a conclusão tenha sido de Freud ou talvez porque, às vezes, tenha se confirmado, virou lugar comum concordar com tal afirmativa.
O problema é que a vida acaba desmentindo Freud. Vejamos.
Um advogado, por exemplo. Quanto mais bem sucedido é em seus processos, mais quer continuar sendo. Não só em função do dinheiro, mas por ter obtido 'louvor' pelo que buscou e por poder entregar isso a seu cliente. E quando não é atendido, fica insatisfeito, coloca a culpa no juiz e faz um recurso melhor do que tudo na vida para tentar reverter e ganhar. Nesse caso, Freud mentiu.
No amor. Quando depois de toda a função da conquista se consegue estar com a pessoa desejada, se a pessoa conquistada for realmente bacana e se mostrar na maior parte do tempo (não todo o tempo, porque isso é humanamente impossível) ser mais interessante e mais surpreendente, a admiração aumenta e o desejo persiste. Acho que, nesse ponto, Freud, também, errou.
E agora, vejamos se Freud aplica-se no caso do pessoal do Ministério dos Transportes, do Dnit, do DAER, das prefeituras gaúchas que facilitaram as licitações, da fusão Sadia e Perdigão, da tentativa frustrada (por enquanto) do Pão de Açúcar, das licitações da Copa, da mídia dominante e dominadora? Parece que não, pois, aqui, quanto mais lucro e quanto mais poder o desejo aumenta. Conquistar o objeto, não os deixou tristes, mas fez com que eles quisessem mais do mesmo objeto. Ao alcançar o objeto de desejo (repita-se lucro e poder), o mesmo desejo se multiplicou, no estilo Eike Batista e suas empresas XXX.
O objeto mata o desejo? Nem sempre, dr. Freud.